Epistemologia/Fenomenologia
A filosofia começa com o nosso (seu e o meu; o de uma criança ou o de um animal recém nascido) espanto diante da vida e do mundo. Aristóteles afirmava que se quisermos compreender o mundo mais profundamente temos que deixar de lado nosso modo habitual de aceitar as coisas. Difícil. Confiamos mais na percepção direta do dia a dia. O filósofo francês Merleau-Ponty decidiu investigar mais profundamente experiência do estar no mundo e questionar nossas pressuposições cotidianas o que o coloca na linha da fenomenologia iniciada por Edmund Husserl no começo do século XX. Husserl decidiu entender melhor a experiência da primeira pessoa ( o EU) de um modo sistemático. Ele abandonou todas as pressuposições.
O CASO DO CORPO SUJEITO
Merleau-Ponty aceitou o ponto de Husserl acrescentando a ele que a nossa experiência não é apenas uma experiência mental… mas também corporal! No seu a Fenomenologia da Percepção, ele explorou esta idéia e concluiu que a mente e o corpo não são entes separados – o que contradiz uma longa tradição filosófica que principiou com Descartes.
Para Merleau-Ponty, temos que entender que o pensamento e a percepção estão inextricavelmente juntos e que o mundo a consciência e o corpo são partes de um único sistema. Esta alternativa à concepção da mente incorpórea de Descartes é o que Merleau Pony chamou de “Corpo-Sujeito”.
Podemos notar que Merleau-Ponty rejeitou a visão dualista de que o mundo é composto de dois entes separados, a mente e a matéria. Um excelente ponto de vista na minha opinião.
O filósofo observou experiências incomuns. Ele afirmou que o fenômeno do membro fantasma (um amputado sente o seu membro perdido), mostra que o corpo não pode ser considerado uma máquina! Aquele membro ainda existe porque ele sempre foi ligado a vontade da pessoa única e não era apenas uma porção de células e vasos. Em outras palavras: o corpo nunca apenas é só um corpo é um corpo ‘vivido’.
A ênfase de Merleau-Ponty no papel do corpo e sua asserção de que a mente fundamentalmente está incorporada ao todo (corpo e mente = uma só realidade), levaram a um interesse na sua obra pelos cientistas cognitivos.
Avanços recentes na ciência parecem corroborar a idéia de que quando rompemos nossa aceitação corriqueira e habitual com o mundo a experiência do estar vivo fica mais profunda e até, poderíamos dizer, estranha. Para Merleau-Ponty nenhuma informação somente física pode nos dar uma descrição da experiência do estar-vivo.
Vamos resumir minha gente.
1 Nossa experiência é cheia de enigmas e contradições. Certo?
2 Nossas suposições cotidianas nos impedem de ver esses enigmas e suposições. O dia a dia é fogo…
3 Daí…
4 Deixar de lado nossas suposições cotidianas.
5 …reaprender a examinar a nossa experiência. Fica então que…
A fim de ver o mundo,
temos de romper com nossa
aceitação habitual a ele.
M.Merleau-Ponty
Maurice Merleau-Ponty nasceu em 1908 em Rochefort-sur-Mer, França e freqüentou a École Normale Supérieure com Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir. Graduou-se em Filosofia em 1930 e trabalhou como professor em várias escolas. Isso até 1943 quando juntou-se ao exercito francês e lutou como oficial de infantaria no front na Segunda Guerra Mundial. Sua obra principal ‘Fenomenologia da Percepção’ foi publicada em 1.945 e depois passou a lecionar filosofia na Universidade de Lyon. Seus interesses abrangiam também educação e psicologia infantil. Foi colaborador regular na revista Les Temps Modernes, fundada por Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir. Em 1.952 tornou-se o mais jovem professor a assumir a cadeira de filosofia do Collége de France onde ficou até 1.961 quando morreu com apenas 53 anos.
O ANTES, BEM ANTES…
Século lV a.C.
Aristóteles afirma que a filosofia começa com um sentimento de espanto.
Ano 1.641
‘Meditações sobre a filosofia primeira’ de René Descartes estabelece um dualismo mente-corpo que Merleau-Ponty rejeitou.
Inicio de 1.900
Edmund Husserl institui a fenomenologia como escola filosófica.
Em 1.927
Martin Heidegger escreve ‘Ser e Tempo’ uma grande influência sobre Merleau-Ponty.
DEPOIS
Em 1.979 Hubert Dreyfus recorre às obras de Heidegger, Wittgenstein e Merleau-Ponty para explorar os problemas filosóficos suscitados pela inteligência artificial e pela robótica.