E por falar em riscar e sublinhar, Mario estou relendo o Amor Maior e no conto o Tempo e a Vida, encontrei sublinhada a frase referente ao quarto elemento que é fundamental: o imponderável. Desde a primeira leitura tive vontade de perguntar (acho que por isso o sublinhei) o que você considera imponderável. O imprevisível, é claro, faz parte da nossa vida, do dia a dia; agora mesmo aconteceu algo que não estava no programa, pelo menos não no meu, mas, você coloca o imponderável numa categoria acima do imprevisível.
MARIO
Verdade Vanda. Além do que procuramos ensinar aos nossos filhos em campos como a higiene, segurança, cultura e outros, deveríamos dar um treinamento a eles sobre a beleza do imponderável!
Vamos ver.
Vanda neste momento você é composta de três dimensões e como você lida com elas, elas podem se transformar na sua mensagem para os seus amigos e os que se aproximam de você. As três: o passado, o presente e o futuro.
O tempo enfim.
Para a maioria dos seres humanos o passado já era. Passou. O futuro não existe. Não veio. Quem sabe nem venha… Para muitos só existe o momento presente. O instante que estamos vivendo. Esta é a coluna dorsal do existencialismo. Mas, conte-me o que é um INSTANTE? Teríamos que dividi-lo em vários outros instantes e um deles seria “este” quando escrevi “ESTE.” Ah e ele passou… Parece que o momento presente é uma finíssima linha divisória entre duas entidades que simplesmente não existem: o passado e o futuro.
Alguns pensadores começaram a repensar a concepção de tempo. Aristóteles concluiu que ele é apenas uma medida de movimento. Immanuel Kant jurou que o tempo não é uma parte do mundo, mas um aspecto da nossa representação mental. Uma coisa da “cabeça” do peão.
Mas, um homem que teve um grande impacto sobre a concepção de tempo foi o grande, divertido e genial Albert Einstein.
Einstein sugeriu que deveríamos pensar sobre o tempo da mesma maneira que consideramos o espaço. O tempo “se estenderia” em todas as direções como o espaço. Agora imagine pontos colocados ao longo do tempo: o presente, passado e futuro! Não podemos (pelos nossos limites) vivenciar o passado ou o futuro e só sentimos e vemos o que está aqui e agora neste momento… Mas isso não significa que só este momento existe! Se conseguíssemos chegar lá (no passado ou ir ao futuro) poderíamos vivenciá-los! Veja que inclusive neste momento (dia 21 de dezembro de 2014 as 9 da noite) você está fazendo uma viagem para o futuro e com paciência você vai viver o futuro amanhã de manhã. Ele é só o ‘futuro’ neste momento em que escrevo.
E ele passou…
(Hoje as 7.37 h da manhã de 22 de dezembro de 2014) aqui em Curitiba, tudo escuro e chove pacas… O futuro chegou uma vez que escrevi o parágrafo anterior ontem à noite, passado!)
Vamos procurar entender melhor o enigma do tempo dentro da realidade nossa de cada dia.
Sabe, pensando bem eles não estão estendidos diante de nós. Veja que a realidade é constituída de um continuum espaço-tempo. Estamos melhorando, gente. Todo objeto que existe ocupa um ponto nesse espaço-tempo. Por exemplo, ontem, domingo à noite (dia 21) você ocupou um ponto no espaço-tempo no facebook e postou trabalhos nos Amigos de Plantão. Muito bem. Eu ocupei um ponto no Espaço-tempo escrevendo e depois comendo uma manga deliciosa e cama!
E agora uma coisa que você não vai gostar muito. Se esta teoria – Teoria B do Tempo de Einstein – estiver correta os fatos do futuro não são diferentes dos fatos do passado ou presente! Cada um deles existe no espaço-tempo. Assim nada poderemos fazer para mudá-los! A gente vai indo de um para outro, indo, indo… e um dia fim. Não é fácil. Não fique desanimada. Continuando. Pela teoria B, o passado, o presente e o futuro é um livro já escrito! Tem gente que espera que seja só uma teoria (a Teoria B) a ser discutida em meio a uma boa cervejinha no Bar do Mé. Se verdadeira destruiria o propósito da vida.
Nossa.
Concordo que esta teoria perturba a nossa ordem emocional. E isso tudo antes do Natal, ô meu.
Na concepção intuitiva do tempo é dito que o passado está cravado lá atrás e o futuro aberto a nossa frente e pode ser mudado dependendo daquele jeitinho: ganhar na loteria, mudar de emprego ou mandar o chefe para aquele lugarzinho sem se preocupar com as contas no fim de mês por ter outro emprego garantido…
Vamos aqui a considerar os três como uma realidade e ver em cada um uma espécie de função que ajuda o todo.
O PASSADO: Ele é antes de tudo um presente de agora pouco ou um pouco mais e não podemos descartá-lo ou sequer esquecer-se dele. Tentar ignorar o passado é o equivalente a procurar se esquecer que se está vivo e precisar respirar para isso. O passado é um dos seus conselheiros. Quando aprendemos com o passado a barco vai mudando a proa para outra direção sob nossa liderança…
O PRESENTE: é o dom do hoje. É um milagre. Estamos vivos hoje e hoje gostamos, amamos e construímos algo; encaramos combates e com ele podemos dar uma nota ao passado e ver tudo como bons desafios que ganhamos. Nele separamos materiais para construção do hoje. Os relacionamentos de hoje edificam, ajudam a pensar e decidir por você mesmo com base no que você viu. O hoje faz o amanhã, o futuro…
O FUTURO: O que dá a nota de aventura na vida. O salto! O não mensurável. Várias coisas podem acontecer nele e a diferença entre o que você sabe ou não sobre você a deixa meio em dúvida nos passos a serem dados neste campo à frente. Uma notável cor de mistério. A aventura de viver tem sua melhor cor no futuro.
E agora vamos tratar do quarto elemento que você mencionou Vanda: o IMPONDERÁVEL.
O IMPONDERÁVEL: a presença que a faz continuar, usar o que aprendeu e vencer o medo. O imponderável é o cinzel que molda o futuro e dá a ele um corpo dinâmico como sonhamos no passado e começamos, às vezes, timidamente a esculpir no presente. O milagre. O companheiro na hora certa, o empurrão que a faz dar os passos para o fim da caminhada ou do percurso. A gente não sabe, mas o imponderável anima e comunica muito mais à nossa volta do que idéias, promessas e muito papo. O imponderável soma dinamicamente o passado, presente e futuro como se fossem a proa do barco na direção da vida mais ampla e dinâmica.
Um exemplo vai nos ajudar a vislumbrar melhor.
Paulo de Tarso. Durão. No passado fariseu conceituado e apaixonado pela lei e ele a usava para ajudá-lo a “dirigir” os seres humanos ao alcance da sua mão e influência. Um dia na estrada de Damasco ele encontrou o Cristo que contou a ele que tudo na vida girava em torno de relacionamentos com um Deus pessoal, com ele o Cristo e com algumas pessoas. Foi o presente do Paulo nos dois sentidos (uma coisa boa dada e o ‘agora,’ aquele momentuum do encontro) e ele decidiu mudar. Começou a olhar outra direção na vida. Um dia, com um amigo, o Silas, ele decidiu uma viagem longa mais para o oriente. Tentaram, tentaram e não dava certo. Estresse, cansaço, perguntas. Uma noite no meio de toda a angústia e dúvida ele sonhou que um Macedônio chegou e falou: “Paulo, vamos lá… cara, venha a Macedônia e nos ajude…”. Uma grande volta para longe do objetivo anterior. Viagem e mais viagens e finalmente FILIPOS na Macedônia. Uma cidade secular, avançada… a ponta de lança de Roma. A porta do OCIDENTE. Eles passearam de um lado para o outro; barzinhos, papos e queriam descobrir como ajudar o pessoal com a mensagem que ele ganhara sobre a beleza do relacionamento não com coisas e sim com indivíduos. Foram a um rio aonde gente ia para cultuar deuses. Ali encontraram uma mulher que comerciava com púrpura, a Lidia que o ouviu, entendeu, gostou da mensagem e convidou-os a casa dela para apresentá-los a família.
Em todo o processo acima encontramos o imponderável agindo na vida e no tempo dele. O tempo vivo, o além da Teoria B do Tempo.
Veja o Imponderável criando um novo futuro para o Paulo. Um dinamismo. Um sentido no meio da aventura da vida. Nada estático duro e impositivo. O imponderável é o nosso maestro pessoal que dirige o passado o presente e o futuro e cria em nós uma mensagem de esperança numa atmosfera de liberdade, pessoalidade e brilho.
Creio que caminhamos pelo espaço-tempo e que há um sentido último na caminhada e que experimentamos o tempo dentro dos nossos limites pessoais que vão se alargando e que o nosso futuro não está estabelecido a priori. Nós o construímos dentro da beleza da criação do todo.
Observação:
A teoria da relatividade de Einstein falou sobre o conceito de um continuum espaço-tempo. Mas, a ideia de tratar o espaço e o tempo como aspectos de um todo unificado foi tratada a primeira vez por Hermann Minkowski professor de Einstein. Um gênio ensinando o outro! Veja como o nosso IMPONDERÁVEL ficou legal acrescentado ao pensamento deles!
Aquele abraço!
Curitiba, 24 de dezembro de 2014