Bate papo com Adilse Koerbel – FILOSOFIA. Espinosa Pensamento

ADILSE - A.23.05.2017

ESPINOSA PENSAMENTO 

“Mente e corpo são um só.” 
B. de Espinosa.

Adilse que beleza o texto da Zile. Sua irmãzinha é genial. Gostaria de conhece-la. 

Vamos ao nosso assunto.

Espinosa é um dos meus filósofos prediletos pelo seu pensamento coerente com a vida. 

Nasceu em Amsterdã, Holanda em 1.632. Veja só, quando ele tinha 23 aninhos foi excomungado pela sinagoga dos judeus portugueses que queriam ficar longe dos ensinamentos dele. Logo depois escreveu um tratado teológico político que sofreu ataques duros de teólogos cristãos e acabou banido em 1674. O furor causado por tudo isso fez com que ele postergasse sua maior obra, Ética, lançada postumamente. 

Um homem modesto, simples e muito inteligente. Cioso da sua moral e por isso recusou vários cargos bem remunerados para, simplesmente preservar sua liberdade intelectual. Viveu com simplicidade em vários lugares da Holanda. Veja só, ele vivia do ensino particular de filosofia e (olha que coisa legal) polia lentes! Seguia o ensinamento do nosso grande apóstolo Paulo de Tarso: 

“Se esforcem para ter uma vida tranquila, cuidar dos seus próprios negócios e trabalhar com as próprias mãos, como nós os instruímos, afim de que andem decentemente aos olhos dos de fora e não dependam de ninguém.” 

Carta de Paulo aos Tessalonicenses, 4: 11 e 12 

Espinosa morreu de tuberculose em 1677. 

Um garotão. 

Agora deixe-me fazer um resumo do pensamento dele para você. 

O sistema filosófico de Espinosa tem a noção de “substancia” em seu cerne. Conceito esse que pode ser rastreado até Aristóteles que focou a natureza de um objeto que fica sempre o mesmo, mesmo que passe por uma mudança.  Veja a cera por exemplo. Ela pode mudar de cor, textura, forma, tamanho e cheiro… mas, assim mesmo é cera. Para o mestre Aristóteles esse algo imutável era a “substancia” da cera. A essência da cera. 

Espinosa empregou o termo “substancia” de maneira similar. Ele a definiu como aquilo que explica a si mesmo.  Ele argumentou que já que há apenas uma substancia tudo o mais que existe é uma parte dela. 

A posição de Espinosa é conhecida como “monismo da substancia” (memorize) e afirma que todas as coisas são aspectos de uma só coisa em oposição ao “dualismo da substancia” que diz que há dois tipos de coisa no universo: “mente” e a “matéria”. 

Quanto a substancia em si, Espinosa argumentou que estaríamos certos em chama-la de “Deus” ou “natureza”. 

O MUNDO É DEUS 

O pensamento de Espinosa explicado na “Ética”, é classificada como uma forma de “panteísmo”: a crença que Deus é o mundo e que o mundo é Deus. Usualmente o panteísmo é criticado pelos “teístas” que o classificam como um ateísmo com um outro nome apenas. 

O Deus de Espinosa, portanto, é diverso do Deus que encontramos no pensamento judaico-cristão. Ele não existe por si só antes da criação. Existindo – e como foi que Ele começou? – a faz surgir! 

DEUS COMO CAUSA 

Uma pergunta. O que Espinosa quis dizer então quando expressou Deus como a causa de tudo? Afinal segundo ele a substancia única é o “Deus ou natureza” Desse modo como fica a relação entre Deus e a natureza? Aos poucos, no pensamento de Espinosa Deus começa a ficar mais em evidencia do que a Natureza. Vale notar que Espinosa usou a palavra “causa” num sentido mais rico do que a usamos hoje.  Segundo Aristóteles uma causa final, a finalização de uma obra de arte por exemplo. Para Aristóteles e Espinosa a “causa” é uma explicação completa sobre algo. 

O que indica que quando Espinosa falou de Deus como a causa de todas as coisas ele quis dizer que todas as coisas realmente encontram sua explicação em Deus. Deus seria a causa imanente do mundo. Deus está no mundo e o mundo nele, Deus. Que a existência e essência do mundo são explicados pela existência e essência de Deus! Para Espinosa entender e curtir esse fato é atingir o mais elevado estado de liberdade possível que ele chamou de “bem aventurança.” Ele diz: “Deus é a causa de tudo que existe; tudo que existe, existe em Deus.” 

Sabe eu penso que Espinosa começou sua linha de pensamento juntando Deus e a Natureza como um só ser o que o colocou no clube dos panteístas. (1) Mas a medida em que ele foi caminhando, Deus foi ganhando personalidade e, podemos arriscar a dizer, um sentido com relação a natureza. Eu diria que a revelação natural de Deus que encontramos nas bíblia foi se mesclando com o processo de Espinosa pensar: 

Vamos ver um texto importante no livro dos Salmos. 

“Os céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra das suas mãos. Um dia fala bem disso a outro dia; uma noite a revela a outra noite. Sem discurso nem palavras, não se ouve a sua voz. Mas a sua voz ressoa por toda a terra, e as suas palavras até os confins do mundo. E nos céus ele armou uma tenda para o sol, que é como um noivo que sai dos seus aposentos e se lança em sua carreira como a de um herói. Ele sai de uma extremidade dos céus e faz o seu trajeto até a outra; nada escapa ao seu calor. A lei do senhor é perfeita e revigora a alma.” 

Salmos, 19: 1 a 7 

Desse modo a pessoa de Deus principiou a ficar evidente no pensamento de Espinosa. Poderíamos dizer que na sua filosofia, a revelação natural de Deus via natureza veio vindo, e, quem sabe se com a pitada da revelação escrita de Deus no Velho Testamento, o conhecimento do Deus pessoal e criador foi amadurecendo no pensamento do filósofo! 

No texto do Spinosa que você me enviou há alguns pontos de vista que eu creio e que fazem bem a alma como diz o Salmo 19. Há nele a ênfase no relacionamento de Deus com ser humano, com o indivíduo. E que essa amizade com Deus é superior à igrejas e grupos maiores onde o poder, dinheiro e o “mandar” nas pessoas é o grande objetivo. 

Se este  meu texto não estiver muito chato passe-o à Zile. Gostei muito do ânimo dela e me identifico com ele.  

Um abração dos bons… 

Mario

(1) Panteísmo é o ponto de vista filosófico em que Deus e tudo que há no universo são uma coisa só. Tem mais umas coisinhas mas fica mais simples assim. 

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